sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Mais Alberto, menos Antônio.

ACS é um escritor brilhante. O livro flui fácil, muito bem escrito, de maneira bela, e clara, bem organizada e distribuída. Mesmo no capítulo em que faz suas considerações pessoais pela vida e obra de Antônio Castro Alves, ACS o faz ponderadamente, tendo com seus argumentos o mesmo cuidado que tem com as palavras e a organização do texto. Uma obra irretocável, do ponto de vista do escritor. 

Já o poeta... enfim, confesso que o modo oitocentista, Victor-Huguiano, melodramático já deu. Aqui concedo mais esta ao Paulo Prado, quanto mais eu leio, mais vou me aproximando de argumentos que ele expôs no Retrato, ainda que sem concordar totalmente com nenhum deles. Não considero o Romantismo um dos flagelos da formação da sociedade brasileira, mas o estilo me cansa. 

Isto posto, vamos aos pontos interessantes do livro e da vida e obra de Castro Alves.  

Ele era bem bonito. Imagino ele jovem sedutor declamando poemas, o mundo a seus pés. Irresistível. 

O modo como ele descreve a África, ainda que liricamente, baseado na versão orientalista francesa, já criticado por ACS, expõe um fato importante; Castro Alves jamais conversou minimamente com qualquer um dos pretos que o circundavam. Por mais que sua dedicação à causa abolicionista, que apoiou desde a primeira hora, fosse legítima e verdadeira, isso não despertou nele interesse em conhecer nem ao menos uma história de um negro ou negra, que certamente havia à sua volta aos montes. ACS dá explicações genéricas para isso, dizendo que não era usual que brancos se interessassem por ouvir negros, ou que estes fizessem confidências àqueles. Ora, também não era habitual ser abolicionista. Se Castro Alves tinha ideias suficientemente progressistas para apoiar a república e o voto feminino, era de se imaginar que tivesse uma consideração mais humana sobre os negros, e que lhes desse um mínimo de voz, em especial se boa parte de sua obra está diretamente relacionada aos suplícios da escravidão. Mesmo após a importante redução do tráfico negreiro na segunda metade do século XIX, havia certamente fontes vivas e documentação sobre o negro e a África de onde vieram os escravos da época.  

No léxico atual de direitos humanos, Castro Alves estaria assumindo um protagonismo abolicionista sem conhecer direito de quem falava. Uma pena. Mas, concordando com ACS, sem dúvida seu posicionamento trouxe visibilidade ao abolicionismo, uma visibilidade que escravo algum poderia dar naquele contexto.  

Destaco também a preocupação de ACS em imaginar como Antônio devia se sentir tendo escravos, ou como se virar sem eles. Muitos de nós já nos vimos presos a situações em que nos aproveitamos de algum privilégio que de maneira geral condenamos. Nem todos teremos biógrafos do nível de Alberto da Costa e Silva. 

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