domingo, 27 de setembro de 2015

Ontem e Hoje

         








O filme Que horas ela volta? e os acontecimentos da cidade dos últimos 20 dias aguçaram a leitura da biografia de Antônio Frederico Castro Alves, muito bem escrita por Alberto da Costa e Silva.

Não consigo tirar da cabeça duas personalidades que foram tão significativas na infância de Castro Alves. Antônio José Alves, seu pai. Médico que cuidava dos escravos sem cobrar, dono de uma biblioteca considerada excelente, que além de gostar de desenhar, ajudou a conceber grande parte da vida cultural de Salvador. Abílio César Borges, seu professor. Introduziu novas ideias pedagógicas, misturando matérias, abolindo a palmatória e fundando os saraus literários, com participação de professores, pais e alunos.

Acredito que tenha sido a formação um dos pilares que fez com que Castro Alves soubesse enxergar além do que os escravos representavam para aquela sociedade. Ele os humanizou. E com essa sensibilidade, nadas mais ousado que querer mudar o mundo. “O rapaz sabia o que fazia: não escrevera aqueles versos para serem lidos em silêncio, mas para serem recitados para a multidão. ”
Jéssica a personagem do filme é uma jovem que diferentemente de sua mãe, empregada doméstica, teve oportunidade de estudar e coragem para seguir outro caminho. Saiu do nordeste do país para balançar os modelos ainda existentes no nosso país. Passou no vestibular e melhor do que tudo, fez sua mãe refletir sobre a própria vida.

Mas sobre o que Jéssica escreveria em seus poemas?

Ouso dizer que os jovens negros do 474 são diferentes de outros jovens negros do passado, eles querem viver sua juventude, sua falta de lazer no subúrbio, sua falta de oportunidade, sua falta de estudo. Eles não tem medo dos branquelos playboys da Zona Sul e nem da PM. Eles não tem nada a perder.

Mas sobre o que eles escreveriam em seus poemas?

Castro Alves é jovem tanto quanto eles. Um jovem que teve oportunidade e soube usá-la de forma a contribuir para a sociedade. Castro Alves escreveu de amor, de natureza, mas ficou mesmo conhecido como o poeta dos escravos.

Naquele tempo, que inveja minha, o teatro e os poemas eram armas contra a política. E hoje? Que ferramentas Castro Alves usaria? O que ele escreveria?


Peço permissão aos poetas de nosso grupo para escrever meu primeiro poema:

Ontem e Hoje
  Lendo Castro Alves ou lendo DaMatta
Negros escravizados ou jovens negros esquecidos
Vejo tudo igual na cidade que habito

Ouvindo a rádio Tupi ou ouvindo rádio Jovem Pan
Tuberculose mata um ou tuberculose mata cinco
Vejo tudo igual no Estado que habito

Vendo TV Manchete ou vendo TV a Cabo
Oligárquicas aumentando a riqueza ou Banqueiros ficando mais ricos  
Vejo tudo igual no país que habito

Notícias trazidas de navio ou internet que acesso todo dia
Imigrantes sendo baleados ou imigrantes sendo afundados
Vejo tudo igual no planeta que habito





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