Confesso, ao iniciar a leitura do livro “Minha Formação”, de
Joaquim Nabuco, que eu tinha uma imagem um tanto quanto idealizada do autor,
que foi um dos maiores defensores da pauta abolicionista no Brasil. Segundo consta na enciclopédia virtual mais badalada da atualidade, Joaquim é
definido como diplomata, poeta, orador, jurista, um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras, doutor em Letras pela Universidade de Yale, patrono da
profissão de historiador (na data de seu nascimento, 19 de agosto, é comemorado
o Dia Nacional do Historiador). Nos livros de história, sempre é retratado de
maneira imponente, de terno Tweed, com seu farto bigode e olhar firme, imagem
que, em geral, é conjugada a alguma cena de libertação dos escravos. Talvez em
razão da construção da sua imagem, sempre o associei a um libertário,
revolucionário e transformador. Foi com esta visão idílica que inicie a leitura
do livro... e aos poucos percebi que – como qualquer outra idealização – esta
também estava equivocada.
Em “Minha Formação”, Joaquim (de agora em diante JN) explica
os seus posicionamentos políticos, religiosos e morais. Aos 21 anos era
republicano; depois se tornou monarquista parlamentar; não apenas por influência
do Bagehot (autor que eu desconhecia, mas que parece ser de leitura importante
para juristas e cientistas sociais contemporâneos), mas também, aparentemente,
por ter ficado chocado com o que viu no republicanismo da Revolução Francesa.
JN aponta, no capítulo 5, que “antes de tudo, o republicanismo francês, que era
e é o nosso, tem um fermento de ódio, uma predisposição igualitária que logicamente
leve à demagogia, ao passo que o liberalismo, mesmo radical, não é só
compatível com a monarquia, mas até parece aliar-se com o temperamento
aristocrático.".
Eis aí meu primeiro espanto: o abolicionista, libertário e
defensor dos negros era um aristocrata convicto. Vejam só nesta passagem, ainda
no capítulo 10: "o que me impediu de ser republicano na mocidade foi muito
provavelmente o ter sido sensível à impressão aristocrática da vida."
Um aristocrata que, a despeito de ter flertado com o
republicanismo em sua juventude, tornou-se um ferrenho defensor da Monarquia e
da família Real no Brasil. Talvez porque o movimento republicano dava-lhe uma
impressão de inveja que JN não poderia tolerar, como ele mesmo destaca no
capítulo 12:"no republicanismo, falo do sincero, do verdadeiro, há um
ideal, mas há também um ressentimento
das posições alheias, como no socialismo, no comunismo, no anarquismo há ideal,
mas há também inveja, e desta é que parte, quase sempre, o impulso
revolucionário."
Talvez por influência do seu pai, que foi um homem que JN
admirou muito e que exerceu profunda influência em suas convicções políticas e
religiosas, conforme ele aponta no capítulo 5:"é provável que em mim
também existisse o embrião republicano; não duvido que, nascido em outra
condição, não tivesse meu pai na mais alta hierarquia da política, se não
descobrisse, como tantos outros que se revoltaram, modo de vencer o terrível multi sunt vocati, pauci vero
electi [muitos são chamados, mas poucos escolhidos] da antiga oligarquia,
eu também tivesse acompanhado o movimento republicano de 1870, do qual faziam
parte alguns dos espíritos que me fascinavam. Se assim fosse, porém, estou certo que o movimento abolicionista me
teria, mais tarde, destacado dele, e que o 13 de maio me identificaria com a
sorte da monarquia libertadora. Se, apesar de tudo, eu me tivesse conservado
republicano até 15 de novembro –nascesse eu em que condição nascesse, uma
vez que fosse o mesmo que sou, isto é, que tivesse recebido no berço os mesmos
rudimentos d’alma –, não tenho a menor
dúvida de que o abalo, o choque do desterro do imperador teria posto fim à
minha fantasia republicana e restabelecido a sinceridade e a lucidez dos meus
sentidos políticos."
Ou talvez porque o espírito inglês predominou sobre as
influências francesas e norte-americanas com que teve contato durante suas
viagens. O próprio Joaquim nos explica: “talvez eu pudesse resumir o processo
da minha solidificação política, dizendo somente que a monarquia faz parte da
atmosfera moral da Inglaterra e que a influência inglesa foi a mais forte e
mais duradoura que recebi." (Capítulo 9)
Mas o que seria estre tal “espírito inglês”? Um bocado de
coisas, na verdade. Nosso amigo nos explica:
"A Monarquia constitucional ficava sendo para mim a mais
elevada das formas de governo: a ausência de unidade, de unidade, de
permanência, de continuidade no governo, que é a superioridade para muitos da
forma republicana, convertia-se em sinal de inferioridade. Esse ideal republicano, de um Estado em que todos pudessem competir
desde o colégio para a primeira dignidade, passava a ser a meus olhos uma
utopia sem atrativo, o paraíso dos ambiciosos, espécie de hospício em que só se
conhecesse a loucura das grandezas. Não era este, de certo, o termo da evolução
humana, pela qual rezamos todos os dias (...)" (Cap 12) "Os
Estados Unidos são um grande país, mas há nele, sem falar da sua justiça, da
lei de Lynch, que lhe está no sangue, das abstenções em massa da melhor gente, do
desconceito em que caiu a política, uma
população de 7 milhões, toda a raça de cor, para a qual a igualdade civil, a
proteção da lei, os direitos constitucionais são contínuas e perigosas ciladas."
(Capítulo 12) ."É, porém, na sua feição política somente que considero
neste momento o espírito inglês, e, ainda mais restritamente, o modo por que
ele se manifesta nos movimentos reformistas, a influência que tem sobre os
espíritos inovadores. Politicamente, o
espírito inglês pode decompor-se em espírito de tradição, em espírito de
realidade, em espírito de força e generosidade de progresso e melhoramento, em
espírito de ideal: supremacia anglo-saxônia e supremacia cristã no mundo."
(Cap. 13) "A esse espírito [de progresso e melhoramento] corresponde, na
ordem política, a ideia de crescimento:
as instituições tem o seu habitat como as plantas, as suas latitudes e terrenos
próprios, condições especiais de aclimação, obstáculos e perigos de
transplantação. Não basta que a reforma seja indicada pela experiência,
baseada em uma forte verossimilhança; é preciso que tenha afinidade com as
outras instituições. Esse espírito
prático, positivo, é a experiência do utilitarismo, do espírito de criar e
acumular riqueza, característico da raça. O utilitarismo manifesta-se em que as
reformas devem ter uma vantagem econômica, pelo menos indireta, e justificar-se
por algarismos. Ao lado, porém, da corrente utilitária, há a corrente
imaginativa ou de ideal, moral, nacional, religiosa. (...) Só quando o orgulho britânico e a consciência cristã estremecem juntos
e se unem em uma mesma causa, é que o sentimento inglês desenvolve a sua
energia máxima. A inspiração da vida pública na Inglaterra vem em grande parte
da Bíblia. A política e a religião sentem que terão sempre muito que fazer
em comum, que uma e outra têm o mesmo objetivo prático – elevar a condição moral do homem, e o efeito desse último e, talvez
principal elemento do espírito inglês, em relação às reformas, é fazer o
argumento moral prevalecer sobre o argumento utilitário." (capítulo
13). "Em relação à Monarquia do
Brasil aquele toque do espírito inglês bastou para traçar-me uma linha de que
eu não poderia afastar-me, mesmo querendo." (Capítulo 13)
Curioso
como que, para JN, o espírito inglês significa a tradição, a conexão indelével
com a religião, o utilitarismo, o pragmatismo e a aristocracia. Para alguém que
buscava subverter uma prática tão tradicional, aristocrata e pragmática como a
escravidão (quer algo mais pragmático do que utilizar a violência para obrigar
alguém a fazer algum trabalho de que você não gosta?), me espanta que o “espírito
inglês” seja apontado como uma das razões a justificar sua defesa da causa
abolicionista:
"Desse espírito inglês eu disse que tive apenas um
toque. Na questão da abolição,
entretanto, não me desviei dele. A abolição era uma reforma que o espírito
inglês anteporia a todas as outras por toda ordem de sentimento. Se a
abolição se fez entre nós sem indenização, a responsabilidade não cabe aos
abolicionistas, mas ao partido da resistência. O meu projeto primitivo, em
1880, era a abolição para 1890 com indenização. (...) Com relação à lei de 13
de maio devo dizer que em 1888 era tarde para se pleitear a equidade da
desapropriação diante de um movimento triunfante, quando já a maior parte dos
escravos tinha sido liberalmente alforriado pelos senhores e o resto da escravatura
estava em fuga, depois, sobretudo, de estar por lei consagrado o princípio de
que a escravidão era uma propriedade anômala, a que o legislador marcava sem
ônus para o Estado o prazo de duração que queria." (Capítulo 13)
Para um homem branco, rico e bonito como Nabuco, impressiona que
a defesa da causa dos negros tenha consumido tanto de suas energias. Ele mesmo,
no capítulo 11, diz que os encantos da aristocracia e da beleza o tentaram... “não
posso negar que sofri o magnetismo da realeza, da aristocracia, da fortuna, da
beleza, como senti o da inteligência e o da glória; felizmente, porém, nunca os
senti sem a reação correspondente; não os senti mesmo, perdendo de todo a
consciência de alguma coisa superior, o sofrimento humano, e foi graças a isso
que não fiz mais do que passar pela sociedade que me fascinava e troquei a vida
diplomática pela advocacia dos escravos."
Contudo, a beleza foi um tema bastante presente em sua vida.
Afinal, como Joaquim precisamente aponta no capítulo 4: “cada um de nós é só o
raio estético que há no interior do seu pensamento, e, enquanto não se conhece
a natureza desse raio, não se tem ideia do que o homem realmente é.”.
Durante sua primeira viagem à Europa, Joaquim dedica-se à
arte e à poesia. Publica um livro de poemas em francês que ele mesmo considera
fraco. Ao final, decide que não tem talento literário o suficiente para se
dedicar exclusivamente à literatura. JN comenta no capítulo 8: "Quanto à
grande poesia, à poesia de imaginação e criação, poema, romance, balada que
fosse, para essa eu seria incapaz, além da insuficiência do talento, pela falta
de coragem para habitar a região solitária dos espíritos criadores, os quais
vivem naturalmente entre figuras tiradas de si mesmos, sem vida própria,
autômatos da sua inteligência e da sua vontade, como em um sonho acordado. (...)
Quando mesmo, porém, eu tivesse recebido o dom do verso, teria naufragado,
porque não nasci artista. Acredito ter recebido como escritor, tudo é relativo,
um pouco de sentimento, um pouco de pensamento, um pouco de poesia, o que tudo
junto pode dar, em quem não teve o verso, uma certa medida de prosa rítmica;
mas da arte não recebi senão a aspiração por ela, a sensação do órgão
incompleto e não formado, o pesar de que a natureza me esquecesse no seu coro,
o vácuo da inspiração que me falta... Ustedes me entienden."
Eis um
aspecto interessante deste personagem complexo e polifacetado da nossa História:
a beleza, o eterno e o transcendental despertam o mesmo interesse que a dor, o
destino (a fugacidade?) e as misérias dos escravos. Pergunto-me se a empatia ao
destino do Outro tem alguma conexão com a sensibilidade ao Belo. Talvez para se
captar a beleza seja necessário ter a mente aberta, disposta a ver, ouvir,
sentir e amar de maneira intensa – e esta amplitude de si ao universo, de
alguma forma, permita captar o que acontece ao Outro, também de maneira
intensa, razão pela qual o sofrimento e a injustiça tornam-se impossíveis de
não serem notadas e sentidas. Um espírito de profunda sensibilidade. Por sorte
da nossa sociedade, decidiu dedicar-se à política; ou não se tratou de mera
coincidência, pois o dedicar-se à política decorra naturalmente do dedicar-se
ás Artes, como o próprio Joaquim defendeu no capítulo 26: "dizendo as
letras, quero apenas dizer o que elas podem ser para mim: o lado belo,
sensível, humano das coisas que está ao meu alcance, a ressonância, a
admiração, o estado d’alma que elas me deixam... Foi a necessidade de cultivar interiormente a benevolência o que,
talvez, me dispôs a trocar definitivamente a política pelas letras, a dar a
minha vida ativa por encerrada, reservando, como vocação intelectual –a
política não fora outra coisa para mim –o saldo de dias que me restasse para
polir imagens, sentimentos, lembranças que eu quisera levar na alma..."
Pois é o Joaquim
abolicionista quem construirá a poesia mais bela que o Joaquim poeta sentiu-se
incapaz de realizar: "no entanto, depois do primeiro
ensaio, a feição política tornar-se-á secundária, subalterna, será substituída
pela identificação humana com os escravos e esta é que ficará sendo a
característica pessoal, tudo se fundirá nela e por ela. Nesse sentido é a
emancipação a verdadeira ação formadora para mim" (capítulo 11). Assim, o Belo
será, para sempre, o traço mais marcante deixado por Nabuco em nossa História.
E porque, entre tantas causas nobres no mundo, JN escolheu o Abolicionismo?
Nabuco nos narra a dor que sentiu quando um escravo que era maltratado pelo
vizinho correu à casa de sua madrinha para pedir socorro: "Eu estava uma
tarde sentado no patamar da escada exterior da casa, quando vejo precipitar-se
para mim um jovem negro desconhecido, de cerca de dezoito anos, o qual se
abraça aos meus pés suplicando-me, pelo amor de Deus, que o fizesse comprar por
minha madrinha, para me servir. Ele vinha das vizinhanças, procurando mudar de
senhor, porque o dele, dizia-me, o castigava, e ele tinha fugido com risco de
vida... Foi este o traço inesperado que me descobriu a natureza da instituição,
com a qual eu vivera até então familiarmente, sem suspeitar a dor que ela
ocultava." (Capítulo 20)
A partir deste encontro, o jovem Nabuco encontrará uma
empatia profunda pelos cativos. Contudo, apesar da bela ideia de que a causa
lhe surgiu por simpatia à dor do outro, em seguida aparece essa estranha ideia
da saudade do escravo: "é que tanto a parte do senhor era inscientemente
egoísta, tanto a do escravo era inscientemente generosa. A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional
do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade;
seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a
que ele guardou; ele povoou-o, como se fosse uma religião natural e viva, com
os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma
infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem
concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte... É ela
o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do Norte."
(Capítulo 20).Não soa estranho que nosso maior abolicionista considere a
escravidão como um "jugo suave"? De novo esta ideia aparece aqui:
"Nessa escravidão da infância não posso pensar sem um pesar involuntário... Tal qual o pressenti em torno de mim,
ela conserva-se em minha recordação como um jugo suave, orgulho exterior do
senhor, mas também orgulho íntimo do escravo, alguma coisa parecida com a
dedicação do animal que nunca se altera, porque o fermento da desigualdade não
pode penetrar nela." (Capítulo 20)
Essa ideia da “suavidade” e da “bondade” dos escravos perpassa
bastante do pensamento de JN, que possui uma visão um tanto idealizada - talvez
paternal em excesso? – dos escravos... E que estes teriam uma espécie de “senso
de lealdade” aos seus senhores e à Monarquia... "Tenho convicção de que a raça negra por um plebiscito sincero e
verdadeiro teria desistido de sua liberdade para poupar o menor desgosto aos
que se interessavam por ela, e que no fundo, quando ela pensa na madrugada de
15 de novembro, lamenta ainda um pouco o seu 13 de maio. Não se poderia
estar em contato com tanta generosidade e dedicação sem lhe ter um pouco
adquirido a marca." (Cap. 22).
Mesmo que o interesse de Joaquim pelo constitucionalismo,
pela poesia e pelo destino dos cativos o torne um homem singular, causa
algum... estranhamento, para dizer o mínimo, a sua defesa da aristocracia, a
bizarra ideia de que os negros abdicariam de sua liberdade para salvar a
Monarquia, de que os escravos guardariam uma espécie de “senso de lealdade”
perante os seus senhores e da importância da religião neste processo – mais como
força moral do que como força política. Joaquim chegou a viajar a Roma e se
encontrar pessoalmente com Leão XIII, para lhe pedir uma atuação mais incisiva
sobre a questão da escravidão. A encíclica papal acabou saindo posteriormente
ao ato da Princesa Isabel, o que levou JN a dizer que "o movimento contra
a escravidão no Brasil foi um movimento de caráter humanitário e social antes
que religioso" (cap. 22I). Contudo, a religião possui uma força política
enorme, e Joaquim parece não enxerga-la desta maneira. A fé tem um papel
importantíssimo na vida dele, mas não se vê em seu relato muitas referências ao
poder temporal da Igreja. O catolicismo parece ser um fim em si mesmo para
Joaquim, o que não despertou nem uma reflexão mais profunda sobre os efeitos
materiais da Igreja na política, nem uma visão mais crítica sobre a omissão do
papado, por décadas, acerca dos absurdos da escravidão.
Porém,
mesmo que JN pareça um pouco cego a certas consequências da religião sobre a
sociedade, o espírito abolicionista de Nabuco é aguçado – e por vezes
surpreendente para o seu tempo. Joaquim menciona que em sua proposta original
havia a ideia de que fosse paga uma indenização aos escravos libertos (capítulo
13); e é com tristeza que ele pondera acerca do refluxo do movimento
abolicionista no dia seguinte à promulgação da Lei Aurea: "a
realização da sua obra parava assim naturalmente na supressão do cativeiro; seu
triunfo podia ser seguido, e o foi, de acidentes políticos, até de revoluções,
mas não de medidas sociais complementares em benefício dos libertados, nem de
um grande impulso interior, de renovação da consciência pública, da expansão
dos nobres instintos sopitados. (...) A verdade, porém, é que a corrente
abolicionista parou no dia mesmo da abolição e no dia seguinte refluía." (capítulo
22)
Arguto,
perspicaz, determinado, sensível às injustiças, um tanto cego pela religião, Joaquim
foi um abolicionista tenaz. No entanto, as características apontadas acima que
causam estranhamento não podem ser dissociadas da sua personalidade. Em
verdade, nenhum homem possui uma agenda completamente libertária – nem completamente
conservadora. Ainda, é importante colocar o filtro do período histórico em que cada
personagem se situa – os prismas de leitura e aprendizado sobre a trajetória
das personalidades históricas precisam ser ajustados. Por isso, o significado
de “abolicionista” para Joaquim Nabuco deve ir além da visão idílica que os
livros escolares nos apresentam. Ser abolicionista significou, para ele, uma
luta política, filosófica, religiosa e estética que durou quase dez anos. Mas
também significou uma visão dos negros, da Monarquia e da religião que parecem
bastante equivocadas nos dias de hoje. Aprender essas nuances nos torna
leitores da nossa própria sociedade mais sagazes e sensíveis à trajetória
política e histórica do nosso país.
Talvez as
descrições de Joaquim nos livros de escola e enciclopédias virtuais devessem se
referir a Joaquim Nabuco não como “político, diplomata, historiador, jurista,
orador e jornalista brasileiro”, mas sim como o Belo, o Abolicionista e o
Espírito Inglês. Estas adjetivações, por mais generalizantes que pareçam ser,
fazem mais justiça ao dinâmico, polivalente, empático homem que derrotou a
escravidão no Brasil, a despeito de todas as dificuldades que enfrentou.