segunda-feira, 7 de março de 2016

Ei, você, fascista! Uma conversa com o espelho.



O livro da minha estreia no GEB não poderia ser mais estimulante. Como conversar com um fascista, da Marcia Tiburi, foi um soco no estômago por ter finalmente percebido que eu tenho, por vezes, atitudes fascistas, uma vez que basta uma simples fala não racionalizada, colocada pra fora por impulso, ou um assunto sobre o qual não conheço o suficiente para o meu discurso se caracterizar como autoritário.

A despeito do título dar a impressão de que o livro se trata de um "manual", a formação filosófica da autora não permitiria que tal abordagem fosse aplicada, tendo em vista que a filosofia não é feita de manuais, receitas, how to do, ou posts com lista de "8 coisas ..." de blogs. Comecei a ler e me deparei com uma discussão filosófica a respeito do diálogo, do papel da mídia, do ódio, do machismo, entre outros tópicos, formando uma miscelânea de assuntos. 

A linguagem, ao contrário do que foi dito por Rubens R. R. Casara na Apresentação, não é tão acessível para os que pouco ou nunca tiveram contato com filosofia ou psicologia. Algumas palavras adquirem outros significados, como por exemplo "afeto", que eu conhecia somente como amor ou simpatia, mas que no texto é utilizada para se referir a ódio também. 

Interessante a colocação da autora sobre a deformação que o capitalismo causa na democracia, fomentada com a ajuda do discurso autoritário. Um regime político no qual deveria caber todos é afetado por um sistema econômico que exclui para se manter vivo, mesmo fazendo "fazendo parecer que o monopólio da democracia é seu". Nos governos Lula e Dilma buscou-se conciliar estes dois paradigmas. Investiu-se na inclusão social, tentando "não incomodar" os interesses do capital. Mas a mídia, como detentora do capital, encarregou-se de mostrar somente o lado inclusivo, manipulando a informação para conferir um viés negativo aos esforços do governo. Manipulada e utilizada como uma máquina de repetição de clichês, a classe média manifesta, através das redes sociais, seu ódio aos programas voltados aos pobres, sem analisar criticamente o valor daquilo para a sociedade em que vive. 

Na contramão da difusão do discurso autoritário, Marcia Tiburi escreve sobre o alcance dos movimentos sociais - macro ou microscósmicos - no Facebook, Twitter etc. Como exemplo, ela cita uma pequena aldeia de índios que consegue apoio por quem talvez nunca tenha ouvido falar deles e atesta o poder de penetração que as redes sociais proporcionam a causas antes completamente desconhecidas.  E isso aumenta o conhecimento em relação ao "outro", através de apresentação feita por ele próprio, e não uma descrição deformada realizada por um outro "outro". A abertura ao outro, oferecendo-lhe a escuta na tentativa de entendê-lo, conhecer seu ponto de vista, abrindo seu mundo para que o outro entre, está entre os caminhos para o arrefecimento do ódio. 

Para finalizar, uma questão que gostaria de expor é que, apesar do termo fascista remeter a um sistema político de extrema direita, o discurso autoritário que a ele pertence é utilizado pela esquerda. A forma como a linguagem é posta determina o viés autoritário ou não. O que importa é se a comunicação se dá pelo diálogo, ou pelo discurso. 

Gostaria de agradecer o convite para participar do GEB. Acredito que muitas certezas deixarão de existir e de que muitas dúvidas surgirão. Mas, de acordo com a autora, o questionamento é "o segredo da inteligência humana". Então, que venham!

Grande abraço a todos. Estou ansiosa para conhecê-los. Até mais!

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