domingo, 3 de abril de 2016

NEM CÉU, NEM INFERNO – JORGE CALDEIRA
(Abril de 2016)

O livro se divide em 2 partes. Sendo a primeira mais deliciosa de ler, com eventos históricos pouco explorados nas escolas (alô MEC para reformular o currículo das aulas de história), contando de forma clara e ao mesmo tempo cheia de detalhes sobre personagens brasileiros, que, de tão fortes, me emocionei a cada capítulo.

E assim, logo de cara, o livro já nos apresenta um velho índio tupinambá que naquele tempo já sabia mais de economia e sociedade (e tecnologia, pág. 23 – Sobre as drogas medicinais) do que de todos os autores clássicos que Caldeira cita. Contudo, não podemos deixar de lado a sutileza que o autor vai aos poucos nos envolvendo com Aristóteles, Adam Smith, Karl Marx, dentre outros, para contar a “evolução” da economia e da sociedade.

Do segundo personagem ao oitavo, uma aula de história de dar inveja e uma vontade ainda maior de estudar cada uma daquelas pessoas. Novas informações que o próprio autor provoca em notas de rodapés, afirmando que é normal que se confrontem com o que sabemos. A parte sobre que mais me chamou atenção foi sobre o nosso parlamento (pág. 53) “Há 188 anos de eleições de parlamentares e 174 anos de funcionamento regular do Congresso” e conclui: “a prática da democracia está impregnada na sociedade”. A verdade é que nunca havia parado para pensar nisso. E, se por um lado, isso é um fator positivo, quando analiso o cenário atual no Brasil e o que esses mesmos parlamentares, de certo modo, fizeram, por exemplo, com Visconde de Mauá, penso que o autor também poderia ter reservado um capítulo para mostrar como esse poder muitas vezes também pode ser perverso. Assim como os militares, que desde sempre, na nossa história, fazem parte de alguma forma de poder e não devem ser poucos os casos de abuso como com João Cândido. Gostaria de discutir isso no grupo: parlamento e militares.

 A segunda parte do livro (nos capítulos que não são de contexto histórico) é questionável já que são artigos são de 1997 e não mais tem uma relação direta com a nossa realidade. Aquele futuro que ele falava, já chegou (e não avançamos muito nos pontos que ele vislumbrava). Não entendi porque o livro foi publicado em 2015 e não se pensou em uma revisão. De qualquer forma, mais teoria, mais clássicos, mais ideologias e mais informação. E acho que, apesar de discordar (ou questionar) de alguns pontos do autor, o livro como um todo é muito bom, pois é muita informação histórica em apenas 300 páginas.

Sobre o último capítulo, não consegui fazer um link direto com os demais. Como ele não citou nomes, acredito que a crítica sobre a falta de informação venha do IPEA e da gestão do PT (se for do IPEA, podemos escolher o Jessé – presidente do IPEA – como próximo livro, que tem tudo a ver com o acúmulo de riqueza). Mas não quero ficar focada nesse ponto. O ponto mais importante de reflexão que ficou para mim desse capítulo e, sobre o qual gostaria de falar, diz respeito a efetividade da nossa gestão (interno) e o início do fim – esgotamento – do capitalismo (externo).


Se o que ele narra é que ao longo da história sempre fomos tão, ou mais, ricos que as outras nações e por erros cometidos dentro dos ciclos econômicos (ele cita dois momentos), há de se pensar que realmente o nosso problema está muito além da falta de informação transparente.  Sobre o esgotamento de um modelo que, como demostra a pesquisa de Piketty, no atualmente concentra a riqueza do mundo nas mãos de poucos, me lembrou a palestra que assisti há algumas semanas do David Harvey, que diz que o capitalismo cresce em progressão geométrica e isso não tem como ser sustentável. Gostaria de discutir isso no grupo: modelo Brasil e modelo mundo.

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